Dirce Carneiro - Diana Gonçalves

Textos

Um Ano de Adeus
Foi um ano atípico. Repleto de eventos.

Marcado pelas perdas.

Mudanças.

Transformações.

Renascimento?

Saltos.

O imponderável bateu na minha porta. Meu pai também se foi. Morreu como quem dá adeus mansamente e a câmera vai se afastando cada vez mais até a imagem se perder ao longe, sem muito sofrimento, de uma maneira que costumamos chamar de abençoada.

Quem pode conhecer os desígnios de Deus? Meu pai não era uma pessoa piedosa, no sentido convencional, mas a julgar pelo modo como voltou à casa do Pai, este teve compaixão dele e o tratou com carinho no momento de sua passagem.

Estava sendo assistido em casa (por minha irmã e sobrinha, na casa desta, que tem uma casa boa, grande). Estivera internado. Tinha pavor de médicos e hospital. Na sua estadia no hospital, delirava (será?) e nestas horas dizia que o ponto de ônibus era perto e que precisava ir para casa. Para quem sempre se gabou da saúde de ferro, era quase uma ofensa ser “furado” por agulhas e amordaçado por sondas. Acho que os médicos compreenderam isso e deram-lhe alta para que morresse em paz, em casa, no meio dos seus. E assim foi, aos oitenta e sete anos, no dia primeiro de dezembro.  Numa manhã, depois de tomar o café. Sentou na cama e “desmaiou”.

É interessante como reverenciamos a memória de uma pessoa que viveu intensamente. Sentimos sua falta, lamentamos sua perda, mas nos confortamos na certeza de que viveu com todas as forças de que era capaz.

À sua maneira, sem nem ter consciência disso, teve uma vida marcada pela força dos que partem de sua terra à procura da sorte em outras terras. Nunca foi um citadino. Era um homem da roça na cidade.

Gostava de política, admirava quem, na sua ótica, era um vencedor, ou parecia ser. Dava título de doutor a todos que possuíam curso universitário. Não virou santo agora, porque  morreu; ele tinha lá seus defeitos, mas que importa?

Olhando a trajetória de sua vida, aplica-se a ele a frase de Euclides da Cunha, autor de Vidas Secas:  “O sertanejo é antes de tudo um forte”.

O ano está sendo de despedidas. Estou deixando o atual endereço, onde moro há mais de duas décadas. Este é um adeus que estou vivendo aos poucos, dia após dias, enquanto procuro um novo lar.

Perdas.

Mudanças.

Transformações.

Renascimento?

Salto.

Desapego.

Quem pode sondar a vontade daquele que tudo governa?



12/12/2007
DIANA GONÇALVES
Enviado por DIANA GONÇALVES em 12/12/2007
Alterado em 13/12/2007


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