O local onde moramos, a vizinhança e circunvizinhanças não estão isolados do resto do bairro, da cidade, do estado ou do país.

Os costumes, hábitos, comportamento e valores observáveis dão uma idéia do macro cosmos onde estamos inseridos.
Aquele motorista que atira a latinha vazia na distante rodovia tem a mesma mentalidade do vizinho que come azeitona na janela e atira o caroço para este cair no terraço dos seus vizinhos de baixo, no jardim ou na calçada.

Num condomínio vertical, por exemplo, diante de um problema que requer solução, se formos ouvir a opinião dos moradores, esta é muito competente se as decisões tiverem que ser tomadas por terceiros. Atitudes como valentia, cobrança veemente e fortes argumentos, quando a responsabilidade não lhes é imputada, diferem radicalmente quando a solução depende de sua própria iniciativa. Desaparecem, nesse último caso, o vigor, a veemência mostrada na cobrança, aparecendo a inércia, as justificativas desconexas, a defesa de pontos de vista que mostram atitudes de quem não sabe viver em comunidade, mas sim olhar para o próprio umbigo somente.

Isto deixa muito claro o nível de educação, civilidade, consciência e distorção de valores verificados no trato com vizinhos. Cada um acha que pode fazer barulho a seu bel prazer, usar substâncias (proibidas, por sinal) que exalam odores para as partes comuns do edifício e moradias vizinhas e outras atitudes que infringem as regras do bem viver em condomínio.

Uma vez reclamei do vizinho barulhento até altas horas da madrugada, este foi advertido como manda o regulamento do prédio, e, na reincidência, multado. Aliás, multado várias vezes. Ele entrou com recurso alegando que as reclamações eram infundadas, que o cheiro era do inocente incenso que ele usava na sua casa. Que no local havia muito barulho vindo da rua e do estabelecimento existente ao lado e que o barulho que ele fazia não era nada diante do incômodo vindo de fora.
Por diversas vezes deixei claro que dentro de nossas quatro paredes temos o direito de viver como entendemos, mas o vizinho não é obrigado a participar das escolhas que o outro faz para a sua vida.

Levemos esse micro cosmos para o espaço mais amplo das relações entre cidadãos, municípios, estados, país. O individualismo exacerbado, a falta de solidariedade, de ética, da consciência que nos leva a entender que o que acontece com o outro não é fato isolado, mas que ao contrário, afeta a todos, porque a sociedade é um corpo formado pelos indivíduos que nela interagem, a ausência da política no seu sentido verdadeiro, que é o bem comum, são fatores de desagregação do meio social que está a pedir uma reformulação urgente das mentes de todos nós e principalmente daqueles alçados a postos de governança ou de comando seja em que nível for.



01/07/2007