DANÇA NINJA DOS HAICAIS E POETRIX
Ultimamente venho tentando os pequenos frascos - poetrix e haicais.
Sempre que tento os terríveis orientais, eles insinuam uma dança ninja saltando carnavalescamente para os poetrix. Não pela métrica, assunto e teoria. O que pega mesmo é negar ao flash a contribuição subjetiva do inconsciente. Sim. O inconsciente teima em fazer saltar para as imagens figuras escondidas no cenário interior de emoções e sentimentos. Haicais tem personalidade forte. Não adianta querermos emprestar-lhes o que somos, ou gostaríamos de ser. Eles batem o pé afirmando não se moldarem ao modo como vemos o evento retratado. Exigem imparcialidade, olhados objetivamente na essência do seu existir ou estar. São como filhos batalhando a independência. Desafio tamanho para mim, pega já na vida adulta ainda acreditando numa vaquinha a olhar fixamente em direção ao sul, para onde migramos eu era ainda bebê. Daí a obsessão em domar este espírito sonhador. A teimosia em querer circunscrever meu olhar ao rígido esquema dos haicais e poetrix, estes nem tão fechados, mais condizentes com esta alma brasileira buscando disciplina métrica da realidade do mundo e da humanidade. Imaginem...Do país do sol nascente, cuja bandeira tem a síntese como símbolo – o sol ou um ponto, depende do olhar - onde cada pedacinho de terra é milimetricamente pensado - para o nosso, de dimensões continentais, onde tudo é grande, com vocação para ser o maior em tudo, com rei e rainha sem monarquia, onde emoção, tragédia, alegria, casamento, e até velório ou enterro, não dependem de pompa ou circunstância para virarem opereta ou festa, regados a cachaça e salgadinho. Tudo se desperdiça na explosão, no arrebatamento, na indiferença ou na banalidade da globalização brasileira do mundial. Da filosofia oriental que valoriza o essencial das coisas, para o ocidente, especialmente os trópicos, onde se espreguiça a palavra amor, amizade, vida, comida, água, flora, fauna, sol, alegria, infância, idoso, trabalho, sexo, sentimento...Onde tudo é mote para piada, carnaval, festança! Querem exemplos? Vaquinhas pastando Enquanto bezerros mamam Simplesmente são. Subida no mastro Pau de sebo na canela Topo só por ela Jogo de mandrake Bola no fundo da rede Jogada de craque !*! Flashes, buzinaço!*! (Não me vejo) sou sensação! ! Entrei na contra-mão? Poetrix é festa Sol e cerveja à vista Amor e carnaval Casinha no morro Samba e som no coração Mais água no feijão Enfim...poetrix ou haicai? Minha emoção invejava aquela oriental menina impassível, sentada sem se mexer na carteira do grupo escolar durante todo o período. De vez em quando seus olhinhos puxadinhos encontravam-se com os meus. Aí ela se permitia um suspiro, um respirar que parecia estar aprisionado há algum tempo. Talvez ela invejasse a minha inquietude, a minha irreverência impensada, a minha ansiedade em dar todas as respostas quando a classe permanecia calada. Até os meus castigos – escrever 100 vezes “não devo conversar na aula”, cumpridos em papel de embrulhar pão. Correr o risco dos castigos ou aprender o tempo certo? Se verdadeira mestra fosse, aquela docente teria me ensinado a arte dos haicais ou poetrix. Minha mãe perguntava o que era aquilo, e eu respondia que era lição de casa. Porque gastava, inutilmente, tanto papel e lápis... 10/10/2005
DIANA GONÇALVES
Enviado por DIANA GONÇALVES em 10/10/2005
Alterado em 11/10/2005 |