Dirce Carneiro - Diana Gonçalves

Textos


SAMBA – NÃO DOIDO, MAS QUASE
 
Raízes  – do samba.  De  árvores no quintal. Espetinhos servidos em bandejas, à moda de rodízio gaúcho.  Cada deguste uma paga.  Caipirinha ao gosto, tudo expresso, a jato, ninguém preso na demora. Tempero fica por conta de amigos – tudo de bom. O sal da vida. Alegria. Sacudir o esqueleto, espantar os fantasmas, exorcizar a preguiça ao som de samba, pagode, marchinhas.
Uma loura sambista para colocar no chinelo qualquer cabrocha de Sapucaí e Sambódromo.
Pernas de aço, fôlego de tubarão, ritmo frenético e criativo, leveza de bailarina clássica. Observo que nem só de forró vivem os cearenses. “Sou eclética”  - ela diz.  Concordo. O ecletismo é traço dos cearenses. Cidadãos do mundo. Já ouvi também que são os judeus brasileiros. Será? Nisso rivalizam com os mineiros.
Pensem num lugar nos confins da Terra, reine chuva, sol ou neve. Lá tem cearense ou mineiro. Descobriram um novo planeta? Quem vai dar as boas-vindas? Um cearense. Especialista em sushi.  Ou um mineiro – especializado no que for necessário. Assando melhor a minha sardinha, com certeza. “Quem parte ou reparte e não pega a melhor parte, é bobo ou não tem arte”. Ditado de paulista, ouvida no meu trabalho, sobre o meu jeito de pensar também nos outros na hora das promoções, os meus escrúpulos ao lidar com a res pública.  Pensando bem, sobre os “mochilas nas costas”, preciso ser justa e ampliar a cidadania e afirmar que para brasileiro o mundo é uma aldeia. Também encontrei gaúchos e paranaenses em povoadinhos da Áustria e Alemanha. Enfim – Urbi et Orbi.  O latim está na moda, depois da cartinha lágrima de crocodilo do Vice.  Verba volant, scripta manent, disse ele. Hábito de advogado.  E paro por aqui antes que eu imite os “adevogados” que pedem aos juízes um Corpus Christi ao invés de  Habeas Corpus.  Isto antes do advento do Google. Pois com ele qualquer um é juiz, médico, advogado e até poliglota, capaz de escrever um latim impecável, Língua ressuscitada recentemente. Declino de ir adiante. Já disse Assis que a qualidade, tanto de contos quanto de romances, sejam eles bons ou ruins é serem curtos. E ele nem conheceu a internet, onde tudo exige velocidade, economia e síntese.  Menos o tempo que se passa nela.  Machado tinha razão, sua perspicácia fez um corte certeiro no tempo.  O Bruxo de Cosme Velho foi um homem muito à frente do seu tempo. Vivesse ele hoje, Bentinho são sofreria com a dúvida da traição de Capitu. Teria toda a certeza do fura-olho e a perdoaria. Também isto está na moda.  É samba de raiz. Voltando às origens.
 
25/01/2016
DIANA GONÇALVES
Enviado por DIANA GONÇALVES em 25/01/2016
Alterado em 25/01/2016
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