CÉUS DE MAÇÃS
No seu texto “À Guisa de Ano Novo e Ano Velho”, Marco Bastos diz que ele, quando criança, era muito crédulo. Lembrei-me de uma história vivida quando eu também era criança. Eu e uma de minhas irmãs, a caçula das mulheres – Maria. Um dia apareceu lá em casa um casal da religião Testemunhas de Jeová falando para nós como era o Paraíso, o Céu... Eles nos perguntaram de qual fruta nós gostávamos mais. Respondemos que era de maçã. Naquele tempo, só comia maçã quem podia comprar. Era caro. Um luxo. Pois bem. As testemunhas de Jeová nos disseram que no paraíso ninguém precisava comprar maçãs. Se tivesse vontade era só ir até a macieira, pegar e comer... Acho que arregalamos os olhos, porque dissemos: “É?” Foram embora. Certamente a “pregação” ficou na nossa cabeça. Uma noite olhamos uma para a outra e dissemos: “Vamos?” Lá fomos nós conhecer e vivenciar o céu, o paraíso, as maçãs. Chegamos, sentamos nos bancos da frente... esperamos. Muita falação. Maçã que é bom, nada. Cada vez mais desapontadas, a coisa chegou ao fim. Acho que perguntaram para nós se tínhamos gostado, mas o nosso foco era um só: “Cadê as maçãs?” Ah! Para merecer as maçãs precisaríamos ir a muitas outras reuniões nesta vida e esperar até chegar no céu. Mas a decepção daquela única noite (poderia ser de tarde, não lembro direito) bastou para nunca mais voltarmos no local. Não havia maçã nenhuma. Nem paraíso, tampouco céu de maçãs. Eles mentiram para nós. Enganaram-nos. Abusaram da nossa inocência, ingenuidade e carência. Na vida, em muitas outras ocasiões fui pega na ingenuidade, mas existe um sino, um alarme que toca dizendo para empreender a fuga de uma gaiola que reluz, mas que na verdade não passa de uma armadilha de alguém que se julga mais esperto e poderoso. E sempre é tempo de abrir as portas de falsas gaiolas de ouro e bater as asas. Gaiolas podem aprisionar o corpo por algum tempo, mas quando a alma é livre e enxerga a luz, ela voa. 04/01/2016 DIANA GONÇALVES
Enviado por DIANA GONÇALVES em 06/01/2016
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