Dirce Carneiro - Diana Gonçalves

Textos

INVEJA
Quando esperava meu bebê, alguém, era mulher, me disse que seria  a última coisa que faria na vida, que podia não ser culta, mas burra não era.
Quando a criança nasceu, uma outra me disse que o bebê era lindo, mas que eu não merecia um presente tão especial.
Passados anos, ouço a mesma pessoa, a primeira, dizer que daria tudo para ter tido um filho. E tudo, aí, são algumas coisas de muito valor.
Recentemente, relatei a uma amiga que eu estava aprendendo pintura, então contou-me de uma conhecida sua que depois da aposentadoria também pintou. E pintou, pintou, pintou tanto que enjoou e deixou para lá. Dissera-me isso como quem dá de ombros, referindo-se a algo que não vale a pena.
Noutro dia, passei com ela na escola e ao sair ouvi-a dizer que também queria pintar.
Aquela, que burra não era a ponto de ter um bebê, quando parou em frente do meu quadro, olhou, olhou, olhou e de repente disse-me que eu esquecera os olhos do peixinho.
Falei do caso à professora, será que ela também deixara passar detalhe tão importante?
Na primeira oportunidade fomos examinar a obra. Explicou-me que os peixinhos estão em movimento e que os olhos estão escondidos.
Disse-me que comentários assim se ouvem quando despertamos este sentimento incluído entre os sete pecados capitais.
É um sentimento que apaga o brilho do outro, ao invés de fazer com que a pessoa resplandeça o seu próprio brilho.
E, além disso, causa doença, tristeza e na sociedade atual é responsável por muitos dos casos de violência.
Uma vez fui fazer visita a presidiários com um grupo de pessoas que se dedicava a esse trabalho. Um dos presos me disse que roubara, porque no ambiente em que ele vivia existia muita comparação com quem tinha a melhor casa, o melhor carro, as melhores roupas. Se ele não fosse igual àquelas pessoas que tinham o que eles consideravam o melhor, ele não seria ninguém. O valor das pessoas ali era medido pelo que possuíam e não pelo que eram. É a predominância do ter sobre o ser, tão em voga atualmente.
Todos deviam dedicar-se ao autoconhecimento para detectar a presença desse sentimento e aprender a reconhecê-lo nas suas ações, decisões, argumentações. As nossas relações e a nossa vida ficariam muito mais saudáveis, não magoaríamos aqueles que nos são próximos, nem haveria tanto mal na sociedade. Todos mesmo, eu também, devemos estar atentos com o que acontece no nosso interior.


28/06/2007
DIANA GONÇALVES
Enviado por DIANA GONÇALVES em 28/06/2007
Alterado em 28/06/2007


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