Dirce Carneiro - Diana Gonçalves

Textos

A FILOSOFIA E A POÉTICA
A FILOSOFIA E A POÉTICA


Ás vêzes nos perguntamos sobre o objetivo de escrever, por isso quero aqui embasar e comprovar a importância dessa atividade, recorrendo à filosofia para fundamentar o que eventualmente nos parece puro diletantismo, exemplificando  as três funções da poesia na nossa vida:

1) Segundo Aristóteles, a poesia é o gênero mais próximo da filosofia;

2) A filosofia é meio de libertação e cura para a alma, conforme Epicuro;

3) A alma é morada da Inteligência, que acolhe o sentimento do Belo, manifestação do Uno, fonte inesgotável de tudo, à luz do pensamento de Plotino.

VEJAMOS:

Na obra do filósofo Aristóteles, destacamos um texto fragmentado, denominado “Poética”. Faz parte do estudo da arte, inserido nas suas reflexões sobre a estética.

Em “Poética”,  Aristóteles examina as várias formas de poesia, sendo a tragédia considerada por ele a forma por excelência.

Aristóteles considera a poesia o gênero mais próximo da filosofia, tendendo para o conhecimento universal, que é o objetivo máximo dessa disciplina.

A poesia encadeia os acontecimentos imaginados segundo suas causas lógicas, ao contrário da história, que documenta a realidade narrando fatos particulares e acidentais.

Já para Epicuro e seus seguidores, a filosofia é um instrumento de libertação e cura. Assim, como o médico se ocupa dos males do corpo, ao filósofo cabe tratar das doenças da alma. A filosofia é assim o socorro - terapia das mazelas da condição humana.

No século III surge Plotino, que retoma a exigência clássica da filosofia, a de buscar um único princípio para tudo o que existe.  Recolhe o que havia de mais significativo na tradição filosófica, e ordena os elementos num pensamento inovador.

Os temas de Plotino convergem para a questão do início de tudo, o Uno. Plotino elabora a noção desse Mistério (posto que sobre o Uno nada se sabe, é indizível) com os meios da tradição filosófica ocidental, isto é: através do logos (palavra, discurso, razão).

Sobre o Uno, assim como ocorre com o Bem, se não é possível uma definição, pode-se deles falar por aproximações e negações ou por intuição, como afirma Platão.

Assim, chega-se ao tema do Belo, expresso na obra de arte, desprezada por Platão, por ser mera cópia do mundo sensível, este por sua vez cópia imperfeita do mundo  das idéias.  

Para Plotino, a essência – o Belo -  define a obra de arte.  

A obra de arte então encarna a alma – bela. Contudo a alma em si não é o Belo, mas tem o sentimento do belo, por ter a lembrança do belo. O Belo mora, então, na Inteligência. É uma idéia que dá forma à obra de arte.

Sem ser o Belo, o Uno, pelo esplendor que irradia, dá a forma de Belo às coisas que ilumina.

O Belo não é o Uno, apenas sua manifestação.

O Uno não é acessível aos sentidos e ao intelecto. O Uno é o transcendente absoluto. Logo não está no tempo. Sequer na  eternidade, esta entendida como “sempre presente”.

Fora do tempo, o Uno faz com que este conceito exista em suas hipóstases - como que paradas da irradiação da luz decorrente do Uno, fonte inesgotável, única, imóvel. Existem momentos em que essas emanações se fixam, como que olhando para trás, lembrando-se do Uno de onde saíram. Nesta parada (conversão)  forma-se no dizer do filósofo, a hipóstase.

Na conversão, a Inteligência, contemplando a perfeição do Uno fora do tempo, torna eternas as idéias.

A Alma, recordando-se da eternidade da Inteligência, faz existir o tempo, cuja forma perfeita é o tempo cíclico, correspondente ao movimento circular e perfeito dos corpos celestes.

Processão (o tudo emanando do Uno ou a emanação da luz, descrita acima) e conversão – estas traduzindo-se em hipóstases cada vez mais inferiores, tem, cada qual em seu nível, certo grau de perfeição.

A perfeição da Alma é a Razão, que comtempla as idéias perfeitas da Inteligência. Uma parte menos perfeita da Alma entranha nesta contemplação a natureza (physis), também perfeita em seu nível. A Matéria, inerte e estéril, incapaz de contemplação, é imperfeita – é o Mal.

Lembremos que o Uno não pode ser oposto ao Mal, não é o Bem. A matéria é apenas o esgotamento da processão. O Bem, sem ser Uno, é a idéia pela qual a hipóstase inferior pode se aproximar do Uno.

No âmbito moral e humano, a prática do bem unifica as ações do homem,  impondo-lhes medida e limite, e nessa unificação ele se assemelha ao Uno.

Cabe então ao homem cultivar aquilo que, na alma, o aproxima do Uno: a unidade da virtude. Aproximar-se cada vez mais do Uno, buscando integrar-se nele, na sua perfeição.

Esse é o objetivo último da filosofia, que é em suma, a contemplação (theoría) do Uno.


Pois bem, AMIGOS DO RECANTO, se a poesia, segundo Aristóteles, é tão próxima da filosofia, esta, conforme Epicuro significa a libertação e a cura d’alma, se recorremos à forma poética para a manifestação do Belo contido na Alma através da Inteligência e dessa forma refletirmos a lembrança do Uno, de onde viemos, sublime é a arte, produzindo hipóstases que nos ligam ao Indizível, Perfeito e Belo.                                

BIBLIOGRAFIA:
COLEÇÃO OS PENSADORES - EDITORA NOVA CULTURAL LTDA

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Leitor, seu comentário é muito importante. Obrigada.

DIANA GONÇALVES
Enviado por DIANA GONÇALVES em 23/08/2005
Alterado em 06/10/2007


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