Óh! AVENIDA BRASIS!
Avenida Brasil está chegando nos finalmentes, como dizia Odorico Paraguaçu – O Bem Amado – magistralmente interpretado pelo grande ator carioca-alagoano Pelópidas Guimarães Brandão Gracindo, o inigualável Paulo Gracindo.
Uma novela atípica, Avenida Brasil surpreendeu por não saturar o telespectador com a enrolação tão característica dos folhetins televisivos. Ao contrário, cada capítulo parecia ser o desfecho do enredo que se reinventava a cada dia. Nos moldes usuais, bem que daria umas dez novelas, tamanha a criatividade e capacidade dos autores* de costurarem várias histórias em torno da idéia central. Comparo, por exemplo – e ainda lembrando o memorável Paulo Gracindo, o personagem Alberto Limonta, de “O Direito de Nascer” estrondoso sucesso onde seu personagem levou uma eternidade para, moribundo, revelar o grande segredo da novela. Puxo pela memória e lembro que, diariamente, quando ele fazia um esforço homérico para falar, acabava o capítulo e a frase que mais se ouvia do povo todos os dias era: “Amanhã ele fala”. E assim a emissora esticou o quanto pode essa linguiça, o tamanho do tempo na minha lembrança infante, a impressão é que foram uns seis meses para finalmente o segredo ser revelado. A bem da verdade, nem lembro qual era a emissora (naquela época não tinhamos televisão em casa) porque o texto do autor cubano Felix Caignet foi radio-novela e telenovela pelo menos três vezes, com vários artistas se revezando nos papéis. Pois é. Depois de Avenida Brasil, acho que o horário das nove nunca mais será o mesmo. Pelo menos a minha (nossa) paciência não mais vai tolerar que nos façam de idiotas. Espero que a inteligência de quem se propõe a ver o horário seja mais respeitada. Aliás, não só nesse horário, mas em todos, deveriam levar em consideração que somos seres pensantes. Todo esse preâmbulo serviu apenas para eu dizer que a maior parte da trama de Avenida Brasil se passa na “Comunidade do Divino”. E no meu inconsciente, esse tempo todo, esteve presente o meu querido Divino. No bairro onde moro a pequena Igreja do Divino Espírito Santo domina a paisagem com seu sino, cujas badaladas são ouvidas à distância de um quilômetro. De tanto ouvir na novela o nome Divino, tomou forma a idéia de que o Divino pode ser no meu bairro, no seu, nos quatro pontos cardeais do país, claro, com seus intermediários, Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste. E por que não pensar que o enredo do Divino pode estar acontecendo em qualquer lugar do planeta? Nas entranhas de cada lar, desde os grandes apartamentos de três milhões ou mais, até as apertadinhas quitinetes, nas casas , nos barracos, aqueles que moram nas ruas, todos tem suas histórias, dramas, segredos confessáveis e aqueles que se leva para o túmulo. Eu disse enredo? Pois bem, na reta final os autores puxam os fios condutores da trama e o que parecia ser já não é, de modo a assistirmos daqui em diante uma espécie de desenredo. Carminha, a vilã o tempo todo, parece que na verdade é uma vítima. Carminha. No meu Divino também tem uma Carminha, o oposto da vilã do folhetim. Doce, sensata, prestativa, um ser de boa vontade, dessas pessoas que fazem a paz acontecer, amiga para toda a hora. E fazendo um contraponto com Gabriela, é claro que temos as vigilantes da moral e dos bons costumes no meu Divino, e aí a esperteza do ser humano é colocado em prova. Falando em Gabriela, a fala da personagem matuta vivida por Juliana Paes num dos capítulos foi de cortar o coração. Casada com Nacib, o marido que frequentava o bordel das meninas do Bataclã, aliás como todos os maridos (senhores moralistas e de “respeito”) da cidade o fazem , o libanes - que todos chamam de turco – quer se confirmar na sociedade como homem casado e de respeito . Ele cobra de Grabiela o uso de sapatos de salto. Ela, acostumada a andar descalça, empinar pipa, brincar na rua com os meninos e dançar a Folia de Reis, coisa que as mulheres da “sociedade” não fazem. O que encantou tanto Nacib agora é empecilho na vida de casados. Emblemática a frase de Gabriela, com os olhos marejados: “Eu também tenho querer, eu também existo, e sapatos acorrentam meus pés”. Ah! Gabriela - disse tudo aí: o casamento está acorrentando sua alma. Neste ponto não posso deixar de lembrar o autor dessa obra celebrada no mundo inteiro: Jorge Amado. Salve Jorge!! Mas voltando ao Divino – já nem sei mais se a Comunidade do Divino da TV ou a Comunidade do Divino do meu bairro. Ah! Sim – Carminha da TV vestia roupas de grife, bolsas caras, usava jóias. Suas roupas de tons açucarados – branco, rosa, nude, agora adquirem a cor preta, opondo a Carminha do enredo e do desenredo. Há um segredo aí a ser desvendado. Tudo indica que a Carminha do enredo – a vilã - era manipulada pelo pai biológico, que a explora. Como a trama urdida por ele deu errado, surge agora esse pai, vivido por Juca de Oliveira, assumindo sua condição e mostrando essa Carminha frágil, desamparada, explorada, manipulada, vestindo preto. E como não podia deixar de acontecer, sempre tem um (ou mais) assassinatos e um dos segredos a serem revelados é quem matou Maxwell - o Max. Deve ter sido nome tirado de alguma latinha lá do lixão. Nome de óleo lubrificante, será propositadamente, já que exercia o papel de amante e de marido por encomenda? Aguardemos as surpresas que os autores nos reservam nos capítulos finais, ai sim, poderemos ter uma visão e análise do que representa cada um dos personagens e suas origens: A Mansão do ex Jodador do Divino Futebol Club, Tufão, rico, simples, bom, ingênuo (por enquanto); O Lixão, de onde sairam, Carminha, Nina, Jorginho, Max e onde ainda vivem Lucinda, Nilo, as crianças; O Salão de Beleza de Monalisa; Cadinho e suas mulheres, moradores da Zona Zul do Rio de Janeiro (Vieira Souto) que agora estão no Divino; O Bar do Silas; A Loja de Diógenes, o chamador de clientes e Tessália A Casa deDiógenes – seu filho e sua mulher O Divino Futebol Clube; A Casa de Santiago - o pai vilão de Carminha; A Casa de Monalisa , sua família e Olenka e Adauto A Casa de Jorginho e Nina A Casa de Suelen e seu relacionamento duplo Porque agora soa o sino do Campanário do Divino, batendo horas da vida real... 16/10/2012 • Autores de Avenida Brasil: João Emanuel Carneiro, com a colaboração de Antonio Prata, Luciana Pessanha, Alessandro Marson, Márcia Prates e Thereza Falcão. • Direção: Gustavo Fernandez, Thiago Teitelroit, Paulo Silvestrini, André Camara e Joana Jabace com direção geral de José Luiz Villamarim e Amora Mautner e direção de núcleo de Ricardo Waddington. • Emissora: Rede Globo, desde 26 de março de 2012 a 19/102012 • Elenco principal: Débora Falabella, Cauã Reymond, Murilo Benício, Nathalia Dill, Eliane Giardini, Marcos Caruso, Vera Holtz, José de Abreu, Heloísa Perissé, Débora Bloch, Camila Morgado, Carolina Ferraz, Ísis Valverde, Alexandre Borges, Marcello Novaes e Adriana Esteves interpretam os papéis principais. • Ver o elenco todo em: Anexo:Elenco de Avenida Brasil (telenovela) (Google)
DIANA GONÇALVES
Enviado por DIANA GONÇALVES em 16/10/2012
Alterado em 18/10/2012 Copyright © 2012. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |