ADULTÉRIOS
O texto primoroso de Woody Allen com tradução de Raquel Ripani e direção de Alexandre Reineck é o ponto alto da peça Adultérios. Na apresentação deste domingo de carnaval, 19/02/2012, Fábio Assunção é o mendigo-sem-teto esquizofrênico, maníaco-depressivo ou como queiram chamar modernamente o bipolar Fred, que contracena com Jim, o marido e roteirista de cinema (Norival Rizzo) e a amante (Carol Mariottini). Existe a mulher de Jim – Lola - personagem sem rosto. Quem já viu Fábio Assunção atuando na TV, percebe que o artista não quer se sobrepor à qualidade do texto que sustenta o espetáculo do início ao fim, o que leva a concluir que tal conduta norteou também a atuação dos outros intérpretes, técnica que talvez tenha o objetivo de reforçar a fragilidade, os conflitos e a inconseqüência dos personagens que eles representam. O imprevisível e o inusitado pautam a fala dos personagens, resultando num humor cômico-trágico e o tempo todo a platéia responde com boas gargalhadas à assimilação do discurso inteligente e incomum da peça. O nome Adultérios nos remete à desconstrução de conceitos e o adultério, no sentido jurídico, parece ser apenas pano de fundo para uma crítica sócio-cultural e expressão de cada personagem dentro das suas características. Uma fala de Fred, relatando um episódio de quando trabalhava numa agência de propaganda, nos dá mostra do quanto o texto é capaz de surpreender a quem o assiste: “Um bordel exibe oito prostitutas. Num canto, um guarda-chuva fechado. O homem entra e vai transar no quarto com o guarda-chuva. Na tela da TV, aparece um wolkswagen e uma frase: ‘Wolkswagen – o carro das pessoas com gosto incomun’. E ele termina esta cena de um modo patético e com uma frase que se repete pelo menos três vezes durante todo o espetáculo: “ O cliente não gostou...” Comparado com outros espetáculos até mais caros, Adultérios fica num patamar muito superior, pelo texto, pela história, pela dinâmica, pelo desempenho dos atores, pela satisfação e pelo prazer que sentimos nos sessenta minutos de sua duração. E no final ficamos com o desejo de que poderia continuar por mais uns bons minutos. Ressalto o espaço físico do teatro TUCA - PUC - São Paulo, Rua Monte Alegre 1024 - Perdizes, com boa disposição das cadeiras e aclive acentuado, de modo que a cabeça da frente não atrapalha quem está atrás. Gostei de ver Fábio Assunção bem e em forma esbanjando como sempre seu enorme talento, levando-nos a crer que a ocasião exige a economia da sua capacidade de atuar. Eu aplaudi sinceramente. Finalmente posso dizer que vale a pena. 19/02/2012
DIANA GONÇALVES
Enviado por DIANA GONÇALVES em 20/02/2012
|