CULINÁRIA DE FESTA
Sabia-se que era um dia especial pelo movimento das panelas na cozinha. Prenúncio de festa, ainda que restrito o número de convidados.
Os pratos típicos eram apreciados por ele e para agradar o seu amado ela preparava, com frenesi e esmero, as receitas que ele lhe ensinara e que seriam degustadas na especial ocasião. O dia transcorria nervoso, afinal eram muitos os ingredientes a serem combinados, sem falar do segredo que envolvia aquela intensa atividade. Os pretextos eram variados e para dar verosimilhança cuidava de usar metodicamente as mesmas mentiras, para os de casa não descobrirem o motivo de tanto entusiasmo. Não podia faltar aquele torresminho crocante, preparado do modo como costumava ser na casa dele. Finalmente, a hora da grande celebração. O cardápio era levado nas próprias panelas onde foi cozido. Ali valia a máxima, comida se come primeiramente com os olhos, mas todos os sentidos participam. Valeu a pena o cansaço da véspera e os truques para que o evento permanecesse na sua dimensão oculta, o processo todo corria em segredo, principalmente longe das vistas do marido. Juntou as panelas, estas voltariam para o seu lugar, um canto embaixo da pia com cortina. O carro desliza sobre a rodovia, deixando para trás as luzes nada discretas, escritas em néon brilhante de cores chamativas, daquele local de prazeres. 22/11/2006
DIANA GONÇALVES
Enviado por DIANA GONÇALVES em 14/01/2007
Alterado em 15/01/2007 |