NADA POÉTICA
Porque guardo segredos, não falo da verdade do meu coração. Porque não gosto do que vejo no espelho, não reflito a beleza escondida. Porque amo o bonito e suave, calo o ódio ao feio, ao rude, ao violento. Porque o cotidiano é estéril, não publico os frutos da experiência dos dias. Porque a realidade é estúpida, vivo-a silenciosamente. Porque a desigualdade existe, apenas falar dela não a torna diferente. Porque ser lúcido é não jogar a criança com a água do banho, Porque existe coerência interna em optar pela felicidade como bem estar e se preocupar com as crianças famintas. Porque dizer não à culpa e sim à lucidez. Porque o por quê destes porquês é o subtexto deste desmando frio, a feiúra da criança na Lagoa da Pampulha, a dialética entre o bestial gesto e a beleza vitoriosa da criança viva. Porque já não existe o indizível, o mundo berra aos nossos ouvidos o código do imponderável. Porque assim, meu sentimento do mundo é a prosa sem poesia. Outubro/2005
DIANA GONÇALVES
Enviado por DIANA GONÇALVES em 28/09/2006
Alterado em 21/10/2006 |