PRESENTE DE NATAL
No alto da colina, entre pinheiros e outras árvores típicas da região, estava encravada a casinha simples daquela família de cinco pessoas, cinco mulheres e dois homens. A mãe passava todo o tempo com as crianças, mas se dedicava também em prestar trabalho para a vizinhança como meio de manter suprimentos da casa. O pai era ausente a maior parte do tempo, condições de trabalho o afastavam do convívio familiar, de modo que aparecia com intervalos irregulares. A figura materna dominava a cena como formadora e mantenedora daquele mundo distante, isolado. Um dia o pai retorna a casa. Diante das meninas, pergunta-lhes o que desejavam ganhar de presente no Natal. Jamais as festas de fim de ano ou de aniversários foram comemoradas naquele ambiente. Tinham vaga idéia do que era Natal só de ouvir falar, mas nunca experimentaram a alegria de receber presentes ou participar de uma festa em alguma igreja ou comunidade. A inusitada pergunta deixou as meninas em estado de choque, causado pela surpresa. De repente uma das meninas se adiantou, saiu do estado de encantamento e disse ao pai: “Eu quero uma boneca”. E teve do pai a promessa de que iria ganhar a boneca tão sonhada. Todo o tempo que passou até a vinda do pai novamente a menina fantasiava, imaginava, falava sozinha, um mundo novo se descortinou ante a visão do momento em que teria nos seus braços a boneca prometida. Na noite de Natal o pai chega e diante das meninas indaga quem lhe pedira uma boneca. A menina feliz lhe disse prontamente: “Fui eu, pai” e adiantou-se para abraçar o pai e receber seu presente. Mas o pai dirige-se para a outra filha e lhe entrega a boneca dizendo: “A boneca é para você, porque é a mais velha das meninas”. Uma criança entende de hierarquia? De sonho desfeito, de promessa não cumprida? Tentou argumentar, dizendo que fora ela quem teve a idéia da boneca, fora ela quem pronunciou o pedido, mas vingou a primogenitura. Ainda que não soubesse explicar, a noção de injustiça, o sentimento do sonho roubado, a sensação de ter sido traída pelo pai, foram conflitos inexplicáveis para a menina, cujo trauma a acompanharam pela vida afora, na forma de atitudes com origem na fatídica noite de Natal. Cedo experimentou quão complicado é o mundo de gente grande, palco de drama e trama das relações humanas. 17.12.09 A todos os leitores e não leitores, buscadores, amigos, poetas, curiosos, simpatizantes, à humanidade inteira, seres animados e inanimados, desejo um FELIZ NATAL, cheio de bênçãos, fé, solidariedade, compreensão e ANO NOVO de muita luz, prosperidade, evolução, inspiração, renovo. FELICIDADES a todos. Meu afetuoso e sincero abraço DG
DIANA GONÇALVES
Enviado por DIANA GONÇALVES em 17/12/2009
Alterado em 17/12/2009 |