LEITURA TEM PODER
O cenário é comum e se repete na telinha das madrugadas: no palco, o homem de Deus é o centro das atenções. O ponto culminante é a leitura do texto sagrado.
E o que ele faz? Ele lê. Uma, duas, três vezes... o texto, repetido até à completa apreensão do significante transmitido. Sim. Do significante. Porque a leitura não passa do âmbito denotativo. Aqui e ali uma sinonímia. Seríamos mesmo uma nação de analfabetos funcionais? Lemos, mas não vamos além do desenho das letras. Tomemos por exemplo os versos “Amarás o teu Deus com todo o seu coração, toda a sua alma e todo seu espírito”. O palco, desta feita disposto à maneira do teatro de arena, no centro, o homem repete mais de três vezes as palavras do texto. E pergunta à platéia se eles entenderam. Equivale a dizer que as palavras foram ouvidas. Ele anda com o livro de um lado para o outro, lança adjetivos como “maravilhoso, poderoso, forte” para o primeiro e mais importante mandamento bíblico e finaliza indo às lágrimas, dizendo com voz embargada “Que o Pai não quer outra coisa dos seus filhos; Ele só quer o nosso amor” E sempre se certifica: ‘Estão compreendendo?” Será que somos alfabetizados nas primeiras letras e em outras questões da nossa vida para ler sem compreender; acreditar sem crer; ouvir sem escutar; ver e não enxergar; andar sem caminhar; comer e não alimentar-se; sentir sem tocar-se; escrever sem redigir; versar sem poetar. Eterno faz de conta praticado desde o seio das famílias até os atos dos governantes. Críticos do sistema educacional afirmam que as escolas fingem que ensinam e os alunos fingem que aprendem. Então, precisamos do outro para ler, necessitamos da fé que o outro tem, da sua dedicação, da sua palavra, da sua emoção, da autoridade que o homem da arena tem junto ao Poderoso. Sim, porque o homem do palco cativa seus fiéis lendo, simplesmente, as palavras do Livro, mas toca os seus ouvintes pela emoção, seu carisma, sua fé, sua unção, seu poder de comunicação. Se o Mestre viesse hoje e indagasse, como fez ao ouvir o grito do cego de nascença: "Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim" e com todos aqueles que o procuravam em busca de um milagre: “O que tu queres que eu faça?” O Evangelista nos conta que o homem cego de nascença responde na certeza do seu milagre: "Que eu veja, Senhor!" Reza o texto sagrado que o Mestre olhou o homem bem nos olhos, e disse: "Vai, a tua fé te salvou". E na mesma hora seus olhos se abriram e ele viu (e acho que saiu correndo e pulando de alegria, para espalhar a notícia, os curados eram a internet da hora) Será que na sua volta a este mundo o Ungido ouviria um coro de uma nação, cada um respondendo em uníssono? - Que eu leia, Senhor! 28.10.09
DIANA GONÇALVES
Enviado por DIANA GONÇALVES em 29/10/2009
Alterado em 29/10/2009 |