Dirce Carneiro - Diana Gonçalves

Textos

AVE, RIO!
Muitos especialistas que expressavam suas opiniões horas antes de ser anunciado o resultado, eram contra a realização do evento no Brasil – Rio 2016.

Os argumentos contra estão todos exemplificados nas manifestações dos que aqui já vieram se expressar, com a diferença de que aqui a realidade é pintada sem o eufemismo verificado na mídia em geral.

Ontem, num desses programas futebolísticos onde os “compadres” ficam prolongando os jogos já realizados em campo numa masturbação mental com “e se...; será?; poderia ter sido, etc.”  um deles saiu com uma tese original: que o Obama fica enchendo a bola do Lula, chamando-o de “O Cara”  para mascarar a verdadeira situação da América Latina, cujos verdadeiros líderes são o Ivo Morales e Hugo Cháves, estes sim, autênticos defensores dos interesses do povo de seus países. Pasmei com tamanha capacidade de se sentir e ser pequeno e não ter auto-estima.

Por mim, acho bom ter uma visão realista de tudo que envolve a realização desses jogos.

Lembro da Hortência, no seu tempo de jogadora, depois de ter perdido para uma dessas potências, dizer chorando, num misto de frustração e revolta, ser contra a realização de grandes eventos no País, pois o incentivo ao esporte não fazia parte da cultura, da política, do dia a dia do fazer brasileiro. Na época, dizia ela, era contra “fazer festa para os outros celebrarem”.

Após a vitória do Rio de Janeiro sobre Madrid, vi uma Hortência cautelosa sim, mas orgulhosa e emocionada, dizendo ter esperança de que daqui para frente as coisas mudem, para termos mais atletas competitivos e capazes de conquistarem muitas medalhas para o Brasil. E repetiu a frase dita anos atrás.

Os que eram contra, prometeram acompanhamento e fiscalização rigorosa da aplicação dos recursos.

Bom seria se tivéssemos escolas em número adequado e de qualidade para todos. Se em cada bairro existissem equipamentos esportivos, piscinas, quadras. Se nossas crianças não precisassem trabalhar desde cedo para ajudarem no orçamento doméstico. Se elas pudessem simplesmente viver a sua infância, serem crianças. Se todos, homens, mulheres, crianças, jovens, fauna, flora, natureza, planeta, pudessem existir na sua plenitude (sem cataclismos, terremotos, miséria, ignorância...)

Sabemos das mazelas do País e elas poderão ser constatadas in loco pelos turistas que aqui vierem para os jogos em 2014 e 2016, o que não pôde ser feito na China, nos jogos de Beijin. Mas muitos se calaram sobre isso na cobertura dos jogos na terra de Mao.

Aliás, mesmo agora, já é possível fazer um tour pelas comunidades cariocas e outras do país.

Como reagiremos ao compararmos nosso número de medalhas aos dos chineses, americanos e os de sempre nos primeiros lugares?

Manteremos a cordialidade ensaiada, como fizeram os coreanos?
Quem será o vaiado da vez?

As telas estampavam os semblantes perplexos dos espanhóis, que tinham 80% da infra-estrutura já pronta para receber os jogos. Confesso que ao assistir ao vídeo deles reconheci que eram  concorrentes à altura do Brasil. Com Príncipe, Nadal, Raul. Madrid, não precisaria dizer mais nada.

Mas existe uma lógica oculta no xadrez, onde os votantes depositam os seus votos...

Bem, ganhamos. Sim, falo na primeira pessoa do plural, porque sou brasileira e por um momento, ao ouvir o resultado, fiquei parada face àquela decisão inédita e ao imenso esforço que nos aguarda. Aos poucos deixei-me contagiar pela alegria e confiança do Presidente que chorava (esquecido das vaias do Pan), ministro, governador, prefeito do Rio, Pelé, que pulavam como crianças, esquecidos dos seus ternos e gravatas, os atletas que compunham a delegação brasileira. O povo na praia de Copacabana, aos poucos acorria para a festa.

Parecia consenso que a vitória do Rio de Janeiro já era, em si, uma conquista, motivo de orgulho e celebração, a par do imenso desafio e responsabilidade que a notícia trazia.

O momento era de magia. Esquecida das negatividades até então ouvidas, já que o resultado estava consumado, era hora de celebrar. Reconhecer a competência do trabalho colocado no filme de Fernando Meirelles e no papel onde foram escritos os compromissos para a realização do evento e certamente da articulação desses dois anos nos bastidores dessa votação. A magistral apresentação do projeto feita por Havelange, Cabral, Paes, Nuzman, Isabel Swan, Henrique Meirelles, com destaque da fala apaixonada, articulada e competente do Presidente Lula.

Que ele se torne realidade, nos jogos e na vida do povo do Rio de Janeiro. Para alegria e orgulho de todos nós, do Brasil.

Ave, Rio!


05.09.09
DIANA GONÇALVES
Enviado por DIANA GONÇALVES em 05/10/2009
Alterado em 05/10/2009


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