CEM CONTOS...
Nove horas. Era a hora marcada para o exame otoneurológico, para investigar a labirintite que graças a Deus parece que se foi. Aliás, para ser sincera, fui naquele médico em busca de guias para fazer exames pelo convênio, pedidos por uma médica na consulta particular que eu paguei. Mas o doutor foi categórico, não faria os pedidos, ao contrário, deu-me um ultimato: eu queria consultar-me com ele ou apenas obter as guias? Para justificar, expliquei-lhe que já havia feito todos os exames costumeiros, tomado os mais diversos medicamentos e que aquela médica, cuja matéria saíra no jornalzinho do bairro, havia acenado com um tratamento novo, exames diferenciados, dissera que a metodologia dos exames feitos até então não eram confiáveis, etc. Não teve jeito, lá fui eu fazer o tal exame de novo, quem sabe pelo menos este doutor receita medicação sem os terríveis efeitos colaterais. A médica encarregada do exame foi bastante acessível e tudo correu bem. Sentei-me na sala de espera para consultar o doutor, já com os resultados dos exames. O ambiente era decorado com muito bom gosto e por ele dava para perceber a personalidade do seu dono. Música clássica, livros de arte na decoração, literatura. Eu piscava os olhos com força para ter certeza de recobrar o equilíbrio, porque o exame estimulara o labirinto e provocara vertigem. Um livrinho chamou-me a atenção: “Cem contos curtos”, de vários autores. Confesso que tenho atração pela síntese e admiro quem é capaz de escrever, em poucas palavras, um conteúdo com significado. Desafiei o meu estado vertiginoso, mas não resisti. Peguei o livro, que cabia na palma da mão, e em três ou cinco minutos li as cem páginas. Saí de lá com o diagnóstico de um labirinto saudável que deve ter sofrido o efeito de algum evento cujos efeitos se fizeram sentir nele, uma receita de ginko-biloba para manutenção e cem contos lidos. Uma manhã assim é prenúncio de um ótimo dia. Cem contos lidos em cinco minutos... Será que isso tem efeito colateral? 16/01/2008
DIANA GONÇALVES
Enviado por DIANA GONÇALVES em 24/07/2008
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